Os dados motivaram as instituições a lançar, na última sexta-feira, a campanha #meninapodetudo.
A violência contra a mulher é assunto em alta nos últimos anos, mas nem por isso o tema deixou de ser tabu. Uma pesquisa que será divulgada hoje mostra que 90¢ das mulheres entre 14 e 24 anos que vivem nas periferias brasileiras afirmam ter deixado de frequentar espaços públicos e de usar determinadas roupas por medo da violência. O levantamentos foi realizado pela Agência Énois- Inteligência Jovem, em parceria com os institutos Vladmir Hergoz e Patrícia Galvão. Foram ouvidas 2.285 mulheres de 370 cidades do País. Os dados motivaram as instituições a lançar, na última sexta-feira, a campanha #meninapodetudo.
"O que mais chamou a atenção é que, apesar de todas as mudanças nas últimas décadas, a gente ainda ensina no ambiente familiar e na escola que existem coisas que são só de meninos e outras só de meninas. A educação ainda é muito machista", explica Érica Teruel Guerra, coordenadora da pesquisa e educadora da agência.
Baile do funk da Paz, na Rocinha em 2011: O primeiro depois da pacificação Foto: Gabriel de Paiva /Agência O Globo
A palavra "rua" foi a mais citada nas respostas, sobre como a violência aparece no dia-a-dia das mulheres. O espaço público é visto, pela maior parte das entrevistas, como um local em que não há segurança ou respeito: 94% delas já forma assediadas verbalmente e 77% , fisicamente, como a "encoxada" no transporte público ou o beijo forçado e a passada de mão nas casas noturnas.
"As meninas crescem ouvindo que a rua não é lugar delas, que não podem sair em determinados horários, que não podem usar tais roupas. Então, certamente, a menina não vai se sentir à vontade na tal qual o menino, que é incentivado desde criança a brinca na rua", afirma Érica.
O levantamento mostra ainda que quase 80% das entrevistadas acreditam que o machismo afetou seu desenvolvimento. A campanha #meninapodetudo divulgará vídeos educativos produzidos com base nos dados da pesquisa.
O primeiro Seminário Internacional Cultura da Violência contra as Mulheres começou ontem em São Paulo a com o objetivo de discutir os processos sociais e a formação dos indivíduos que originam a violência de gênero. Cerca de 20 especialistas de todo o mundo participam do eventos.
Na abertura, a representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, lembrou que uma em cada três mulheres já sofreu violência física ou sexual no mundo.
"A violência contra mulheres e meninas tem solução. Para isso, precisamos mudar nossos valores e fazer valer os direitos humanos de todos e todas e discutir, como nesse seminário, as causas disso. E não só no Brasil, é um problema de todo mundo. A educação de meninos e meninas é fundamental para essa mudança, para que o papel do homem e da mulher não seja construído de maneira desigual, dando predominância para os homens", afirmou Nadine.
A ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Política para as mulheres, também participou do evento. Para ela, o cenário atual de violências contra mulheres é resultado de uma cultura patriarcal e machista em todo mundo.
"Esse cenário não é novidade. Essa cultura machista estrutura a sociedade de tal maneira que tornou banal a violência, a sociedade banaliza a violência. Então, a sociedade convive com isso passivamente. O que mudou é que movimento feminista foi para as ruas denunciando aquilo que a sociedade dizia que era da ordem do privado, que a briga de marido e mulher não se mete a colher", ressaltou a ministra.
Eleonora também afirmou que não é possível medir se houve um aumento da violência contra a mulher nos últimos anos no país. Para ela, o que houve foi o aumento da divulgação de dados sobre o tema.
"Depois da formulação da Lei Maria da Penha, a penalidade passou a ser maior e os números começaram a ser relevados. Hoje, temos leis fortes no Brasil e falamos mais sobre o tema. E é sobre essa visibilidade e essa banalidade que temos que atuar e não aceitar mais que o Brasil seja o sétimo país no ranking de país com mulheres vítimas de violência no mundo", disse a ministra referindo-se ao último Mapa da Violência, de 2012.
Ainda nesta quarta, a professora da London School of Hygiene and Tropical Medicine Lori Heise, especialista em violência doméstica, que faz uma pesquisa sobre o tema em dez países, entre eles o Brasil, falou no seminário sobre as motivações para a violência de gênero.
"Existem questões culturais diferentes (nas regiões pesquisadas por ela), mas nas regiões da África e da Índia com mais violência do que no Brasil existem projetos que estão dando certo trabalhando o empoderamento da mulher e ensinando casais a lidar com os gatilhos da violência doméstica que costumam ser a questão da bebida, o estresse por questões financeiras, o ciúmes e a infidelidade", explicou Lori.
A pesquisadora também destacou que uma das chaves para a violência contra a mulher é a agressão na infância: "A criança punida com muito rigor ou abusada durante a infância tende a aceitar a violência quando sofrida".
(fonte:http://www.capitalteresina.com.br/)
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