quarta-feira, 1 de junho de 2011

Homens contra a violência machista

Artemisa


Artemisa Noticias
Adital
Por Alejandra Waigandt



Crescer o número de homens argentinos que combatem a violência de gênero. Em 2011, estão participando na campanha ‘260 homens contra o machismo’, impulsionada pelo governo nacional, que visibiliza os feminicídios que aconteceram em 2010. Ao aderir, os homens se comprometem a não exercer práticas machistas. Essa política soma-se à campanha ‘Laço Branco’ e a outros espaços onde os homens refletem sobre suas masculinidades e propõem ações concretas a favor da equidade de gênero.

Na Argentina, cada vez são mais os homens envolvidos na busca da igualdade de oportunidades, destacando sua participação na luta contra a violência de gênero. Para eles, introduzir-se nesses temas não é fácil porque começam a ser isolados por seus próprios pares nos espaços que frequetam. Também são duramente criticados devido a que questionam a situação de privilégio que a sociedade lhes destinou em detrimento da mulher. Nesse contexto, crescem atividades que, anos atrás, eram inconcebíveis. Por exemplo, a campanha nacional ‘260 homens contra o machismo’, lançado no dia 28 de março na cidade de Buenos Aires. A cifra representa o número de argentinas assassinadas violentamente por seus companheiros, ex-companheiros ou outros familiares em 2010, e surge do registro de casos realizado pelo Observatório da Sociedade Civil sobre Feminicídios na Argentina Adriana Marisel Zambrano.

Essa campanha é impulsionada pelo Ministério de Desenvolvimento Social e persegue o objetivo de erradicar a violência contra as mulheres, envolvendo aos homens na tarefa de transformar o machismo que para eles pode ser opressivo, enquanto que para elas pode significar a morte. Essa ação conseguiu a participação de funcionários de diferentes lugares, como o Ministro da Economia, Amado Boudu ou o titular de Aerolíneas Argentinas, Mariano Recalde; como também de outros dirigentes que, possivelmente, estejam interessados nas possibilidades de promover suas candidaturas eleitorais; porém, que, sem dúvida, contribuem para visibilizar o problema da violência de gênero devido à sua representação no âmbito político.

A campanha está conseguindo adesões em todo o país. No dia 5 de abril, Morón aderiu, conseguindo uma participação massiva. A cidadania dessa localidade ganhou mais consciência sobre as iniqüidades de gênero que o município instrumenta há anos. Nesse sentido, foi chave o envolvimento de Martín Sabatella, quando esteve na Prefeitura. Atualmente, é deputado nacional e foi quem impulsionou a adesão de Morón à campanha, conseguindo o apoio do atual chefe municipal Lucas Ghi. No ato que realizou-se na praça principal, Sabatella destacou a estratégia de comprometer os homens porque "os direitos das mulheres ou a violência contra as mulheres são temas de todas/os e a luta pela equidade permitirá construir uma sociedade distinta”.

Por outro lado, o coordenador geral da Fundação Buenos Aires Aids, Alex Freyre, uma das personalidades comprometidas com a política impulsionada pelo Ministério de Desenvolvimento Social nessa matéria, disse que no país está acontecendo uma revolução cultural e combater o machismo é parte dessa revolução. Esclareceu também que a quantidade de vítimas de violência de gênero é maior do que 260, uma vez que os registros de casos se baseiam em divulgações dos meios de comunicação. Não existem cifras oficiais sobre esse problema.

Em Morón, foram vistos ao redor de 300 homens levantando cartazes nos quais se liam os nomes e os lugares de origem das vítimas de feminicídio. O coordenador geral da Dirección de Políticas de Género do município, Leonardo Di Dio, também levantou um cartaz e assinou o documento mediante o qual os envolvidos se comprometem a lutar contra a violência de gênero e a não exercer o machismo. "Não conhecia o enfoque de gênero e o incorporei quando comecei a trabalhar na Prefeitura de Morón, em 2004; fui conhecendo o problema da violência machista ou de gênero e a novidade de impulsionar, a partir das políticas públicas, uma mudança cultural, combatendo os estereótipos e gerando condições mais equitativas para homens e mulheres”, disse o funcionário a Artemisa Notícias.

Di Dio foi percebendo que aspectos muito negativos do machismo, como a desvalorização do outro gênero, estavam condicionando seu comportamento, a começar pela piada degradante. Entendeu rapidamente que o machismo é uma forma de interpretar o mundo partilhado tanto por homens quanto por mulheres e os feminicídios são uma expressão extrema dessa perspectiva cultural, onde as mulheres são as principais vítimas. "Antes, eu pensava que os homens ocupávamos naturalmente a maioria dos postos de tomada de decisão no âmbito público e também nas empresas porque tínhamos mais méritos. Creio que a primeira coisa que devemos conseguir é reconhecer que internalizamos esses preconceitos e que, apesar de sermos conscientes de que a violência e a discriminação existem, nós mesmos reproduzimos esses comportamentos. É saudável reconhecer-se machista porque isso te permite refletir, começar a ter um olhar critico e modificar esses comportamentos. As coisas que antes eu naturalizava, agora questiono. Consegui contagiar a outros homens para que se somem a essa ideia de que a equidade de gênero trará um mundo melhor”.

Os homens que lutam contra o machismo terão benefícios porque os papeis e comportamentos a eles destinados segundo essa perspectiva cultural são opressivos. "Devemos ter coragem diante de qualquer situação ou força e não demonstrar emoções, tudo isso gera opressão”, diz o funcionário, que comemorou a realização de campanhas como a de ‘260 homens contra o machismo’, porque têm impacto público e sensibilizam à sociedade.

Não é a primeira vez que se realiza na Argentina esse tipo de ações. A convocatória da Fundação Casa Abierta María Pueblo, que recebe mulheres e crianças vítimas de violência familiar, foi pioneira, em setembro de 2010. Uns 231 homens se mobilizaram até o Obelisco em repúdio aos assassinatos de mulheres que aconteceram em 2009. Nessa oportunidade, Darío Witt, diretor da Casa Abierta María Pueblo, explicou aos meios que "os homens devemos assumir-nos como principais culpados por esse tipo de delitos”.

(fonte:www.adital.com.br)

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