quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

De como Cinderela se casou com Peter Pan e se desentenderam para sempre!



Era uma vez uma linda mocinha chamada Cinderela. Filha única, cedo perdeu a mãe, que rapidamente foi substituída por uma madrasta com duas filhas imperfeitas e chatas. Pouco tempo depois seu pai também morreu e a jovem foi relegada ao segundo plano, trabalhando como serviçal. Sofria sozinha no seu trabalho, sempre suja e resignada até que um convite para o baile no palácio do príncipe abrisse uma porta de esperança. Naquele momento Cinderela, uma vítima das circunstâncias, viu no perfeito príncipe a figura do homem protetor e provedor que a resgataria de seu destino cruel e com ele seriam felizes para sempre (?). 

Apesar de linda, Cinderela carece de auto-estima, sofre de inércia, sente-se só, sem poder, incompleta. Precisa ser encontrada pela sua metade para poder ser feliz e inteira. Já dizia Collete Dowling, psicóloga e autora de Complexo de Cinderela. 

O príncipe, chamado Peter Pan, é um menino que nunca cresce e vive em seu Castelo que chama 
de "Terra do Nunca". É o líder de seus amigos, sempre em busca de brincadeiras e diversão.
 É bonito e falastrão, sempre brandido sua espada e vencendo o inimigo mau.
 Representa também o aventureiro, o mosqueteiro, que desbrava horizontes desconhecidos.
 Em seu mundo, todos os sonhos se concretizam, menos a realidade. É um perfeito herói para
 uma mocinha em apuros. 

Peter carece de estrutura, precisa de um chão, precisa de um elemento de aterramento  para lidar
 com a realidade, é egóico e tem medo de crescer. Também estudado e analisado no livro a Síndrome 
de Peter Pan, do Dr. Dan Kiley. 
Então eis que a mão do 
destino se encarrega de
 fazer uma festa no
 Palácio, onde Cinderela,
 por literalmente um 
passo de mágica, 
adentra o Castelo
 vestida na melhor 
alta-costura, maquiagem
 de cinema e calçando
 um sapatinho de inveja
 a qualquer estilista. 
Todos os olhares
 femininosão dirigidos
 a ela e os de Peter
 também. Dançam ao
 som de hip hop a noite
toda e não conversam, mas sabem que são um casal perfeito e lindo, e que foram feitos um para o outro.
 O sapatinho comprova isso, pois não cabe em nenhum outro pé da região.
 E assim, depois de uma noite apenas, Cinderela e Peter Pan resolvem se casar. Belo casamento onde um
 herói carente e narcisista se casa com uma moça impotente e escrava de sua aparência. Cada um criando
 no outro o personagem perfeito para viverem juntos e se desentenderem para TODO O SEMPRE! 

A história de Cinderela já foi reescrita e repaginada tantas vezes, que só a identificamos mesmo pelo seu
 mote principal. Moça linda que jovem perde os pais e é escravizada por sua madrasta, aguardando o dia
 em que seu belo príncipe a encontre e concerte toda a história. Ou seja, não interessa se chama 
Cinderela, Aurora ou Fiona. O que fica no inconsciente coletivo feminino é que a mulher tem quer 
ser bela, escrava de sua aparência e esperar pelo lindo príncipe - que é sua cara metade - e que a
 salvará de uma vida horrível (que pode ser desde lavar louça até ficar solteira), para serem juntos
 uma coisa inteira, que os fará assim, felizes para sempre. 


Já Peter Pan, também modificado diversas vezes, não usa mais aquele traje verde, mas continua sonhando com aventuras e quer sempre brincar. Gosta de viver cercado de seus amigos e tem medo da velhice. Precisa ser admirado e aprovado, mas para ser um homem sério e de sucesso precisa de uma Wendy, digo uma Cinderela (qualquer mulher responsável) para garantir-lhe o contato com a realidade e assim poder ganhar o pão nosso de  cada dia. E por isso, precisa de uma cara metade que o complete e o torne feliz para sempre. 

Esses famosos arquétipos do nosso imaginário infantil representam as nossas expectativas com relação aos relacionamentos que temos com nossos pares. Digo expectativas porque nós mulheres procuramos um homem lindo e perfeito que será provedor e protetor de nossas almas indefesas, que jamais falhará, seja lá o que isso for. E por outro lado, os homens procuram uma 
mulher que seja maternal, responsável, carinhosa e sempre disposta a admirá-lo, seja lá o que isso for. 
Tanto um quanto o outro acreditam que para serem completos tem que encontrar a sua única metade. 
Como será que foi a semana seguinte de Cinderela e Peter Pan, depois de dormirem e acordarem
 juntos tantos dias seguidos? Será que ela achou que os amigos interferiam muito no
 relacionamento? Será que as irmãs apareciam sem serem convidadas e sempre davam alfinetadas? 
Como é o dia seguinte 
na nossa memória? O
 que realmente 
aprendemos com isso? 
As etapas do namoro;
 que são atração, 
sedução e conquista.
 Além das informações subliminares de que
 homens são companheiros (herói dos amigos) e
 mulheres, inimigas
 (irmãs e madrasta), 
pois estão sempre 
competindo. O dia 
seguinte da conquista -
 que é "o felizes para sempre" - ninguém na verdade sabe como é, porque ali o livro acabou, no filme sobem
os letreiros. Ninguém teve um exemplo, então resta apenas a expectativa de que o outro complete a
 metade que está faltando. E é nesse momento onde deveríamos começar um relacionamento, com
 seus altos e baixos, que começamos o embate, as cobranças de posturas de personagens que não
 existem. A luta por quem tem razão. Aquilo a que chamamos Dramas de Controle que 
desencadeiam uma gama de outros personagens numa história sem fim, de dor, de sofrimento,
 de incompreensão. 

Daí vem os desentendimentos. Como entrar em um relacionamento vestindo algo que não somos realmente? Mostrando para o outro aquilo que temos de mais bonito e o que temos de menos real? Estamos
 sempre projetando no outro a expectativa de que ele ou ela nos complete aquilo que nos falta.
 Esperamos muito do outro, sem contudo, falar o que esperamos. O  desentendimento não é
 conseqüência das diferenças. É fruto da falta de conhecimento de nós mesmos que cria essa
 idéia de que precisamos estar no controle. Então controlamos as situações através de Dramas
 para que o outro corresponda às nossas expectativas. Mas como o outro não escreveu a
 história que redigimos acabamos frustrados, lutando corpo a corpo num eterno cabo de
 guerra, que nada mais é do que puro desentendimento. Lidamos com o outro, sem nos
 conhecermos realmente e por isso projetamos no companheiro ou na companheira aquela
 idéia de que nos completarão, e de que juntos, uma coisa só e amorfa, seremos felizes para 
sempre. E pior, que se estivermos sós, seremos infelizes para sempre também, pois algo nos falta. 

 E não nos falta nada. Somos seres completos capazes de sonhar, de conquistar, de arrumar, de organizar,
 de amar, de prover, de liderar sejamos nós homens ou mulheres. Isso não quer dizer que não devamo
s nos relacionar. Devemos sim, mesmo porque temos que aprender a nos relacionar, a nos conhecer,
 a saber a hora de ir em busca, a hora de ceder, e o mais importante,  a hora de aprender a trocar. 
O que nos torna realmente felizes e completos é a troca nos relacionamentos, é através dela que
 crescemos como ser humano e evoluímos em espírito. O resto é apenas sapatinhos e espadas que
 vão mesmo se desentender para sempre! 

Fonte: (Pela Não violência Contra as Mulheres...página facebook.Fonte original: www.http://araretamaumamulher.blogspot.com)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Violência contra mulher será enfrentada de forma decisiva, diz nova ministra (UOL)

(UOL Notícias) Ao ser empossada como nova ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, a deputada federal Iriny Lopes (PT-ES) afirmou que vai continuar a dar “tratamento decisivo” no enfrentamento da violência contra a mulher. Durante a cerimônia de transmissão de cargo, Iriny elogiou o mandato de sua antecessora Nilcéa Freire e destacou a importância do engajamento da Secretaria em ações com os movimentos sociais.

“Não estamos começando nada novo, estamos dando continuidade, em um momento em que precisamos aprofundar e em um momento especial em que temos a primeira presidenta do Brasil”, disse a nova ministra, que lembrou o compromisso do governo de Dilma Rousseff com o combate à miséria e citou a feminização da pobreza no Brasil. Segundo ela, erradicar a miséria significa garantir a inclusão econômica da mulher. “É dar a ela a independência e a autonomia que precisa. A presidenta espera de nós esse enfrentamento”, afirmou.
Ainda durante a cerimônia de transmissão de cargo, a ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres Nilcéa Freire elogiou a atuação do Conselho Nacional de Direitos da Mulher e de organizações da sociedade civil que, segundo ela, sempre mantiveram uma relação de respeito e autonomia com o órgão. “Tivemos, nesses anos, uma relação fraterna de colaboração, que nos permitiu entrar na história com a Lei Maria da Penha, aprovada com o consenso e com a colaboração da ministra Iriny, que relatou a lei na Comissão de Constituição e Justiça”, destacou a ex-ministra.

Leia a seguir alguns trechos da entrevista da ministra Iriny Lopes à Agência Brasil:
"Nosso objetivo central é fazer com que o pacto da não violência, que é um dos principais programas conduzidos pela Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República, seja efetivamente ampliado e que as prefeituras e governos de estados tenham as condições efetivas de aplicação, para que lá na ponta, as mulheres sejam atendidas. Além disso, obviamente, é necessária uma boa articulação com o Judiciário e o Ministério Público no sentido do cumprimento estrito da Lei Maria da Penha para, com isso, efetivarmos no Brasil uma redução da violência praticada contra as mulheres."
"As políticas do governo já estão expressas pela presidenta Dilma durante a campanha.Será cumprida a lei que garante que as mulheres não serão vítimas de sequelas ou vítimas fatais em função da questão do aborto. A posição da presidenta é uma posição de natureza pessoal que a gente respeita, assim como queremos respeitar todas as posições. Esse é um tema polêmico, em lugar nenhum do mundo ele é tranquilo. São pontos de vista diferentes. Algumas pessoas tratam essa questão a partir das suas convicções religiosas, outros tratam a partir da saúde pública. A minha opinião pessoal é que cabe à mulher decidir. Cabe à mulher decidir se ela está em condições, se ela quer, se ela deseja prosseguir com essa gravidez. Então, eu acho que isso precisa ser respeitado."
"Eu acho que a eleição da presidente Dilma vai estimular uma participação maior por parte das mulheres. Agora, as mulheres não participam mais por uma ausência de condições objetivas para que elas possam atuar na política. Ainda prevalece no Brasil a ideia de que a administração da casa, a condução da família, a administração da vida escolar e a manutenção e o acompanhamento da vida de saúde dos filhos é obrigação da mulher. Então, a mulher fica presa. No campo das eleições, é muito mais difícil. Eu falo como uma pessoa que já tem estrada. Eu vou assumir a Secretaria de Políticas para as Mulheres mas fui reeleita deputada federal pelo terceiro mandato, sei o quanto é difícil o financiamento de campanhas para mulheres. Nós temos muito mais dificuldade de financiamento do que os homens. Isso precisa ser alterado para que a gente possa ter condições de uma participação equânime na vida política e no empoderamento das mulheres. Entre homens e mulheres essas barreiras precisam cair."
Universidade Livre Feminista esteve presente na cerimônia de posse e preparou um vídeo com 9 minutos.


  
Acesse: Violência contra mulher será enfrentada de forma decisiva, diz nova ministra (UOL Notícias - 03/01/2011)


(fonte: www.agenciapatriciagalvao.org.br)



quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Feminicídio, realidades e tabus


Susana Merino *

Adital -

  Tradução: ADITAL
No resta dúvida de que existe uma
 taxativa diferença entre, por exemplo, a lapidação de mulheres em 
alguns países islâmicos e a 
frequente tortura e morte de mulheres
 em Ciudad Juárez (México).
A primeira está insolitamente
 amparada pela lei ou pelo Estado,
 enquanto que as segundas parecem 
estar protegidas pelo silêncio cúmplice 
das autoridades civis e policiais da região.
No entanto, no primeiro caso, 
nos sentimos horrorizadas pela
 inqualificável crueldade de um 
castigo que conduz à morte;
 e, no outro, a fria menção das cifras.
 Porém, apesar de que o número de mulheres assassinadas seja consideravelmente
 maior na fronteira do norte mexicano, 
o que nos assombra, 
nos descobrimos quase indiferentes.
Parece que a reiteração de tão inqualificável
 fenômeno outorga aos seus autores
 uma espécie de "patente" para o crime 
e parece também que, ao fazer parte 
das estatísticas, o horror deixa 
de golpear nossas consciências. 
Um assassinato, uma morte próxima,
 uma vítima identificada nos comovem;
 porém, os crimes massivos não deixam 
marcas e até em situações bélicas 
chegam a ser cinicamente qualificados 
e aceitos como "danos colaterais".
Diante da condenação por lapidação 
da iraniana Sakineh Ashtianí e 
da nigeriana Amina Lawal, a sociedade
 se mobilizou e centenas de milhares
 de pessoas em todo o mundo assinaram
 cartas nas quais pediam, em ambos os casos,
 e conseguiram a anulação do castigo.
 Um castigo que, certamente,
 não está nem aprovado e nem estabelecido
 pelo Alcorão, mas que tem sua origem
 na tradição judaico-islâmica e pode ser
 aplicado também aos homens.
 Esse tipo de mobilizações aparentemente
pintado com certo ranço anti-islâmico 
não encontra correlato para as 
múltiplas denúncias mexicanas 
que atingem a um número crescente
 de mulheres entre 14 e 25 anos.
Em Ciudad Juárez, cerca da fronteira
 mexicano-estadunidense, 
segundo organizações não 
governamentais, foram executados
 mais de 350 assassinatos de mulheres e, aproximadamente, 400 desaparições na 
última década, o que as autoridades,
 por incompetência ou amedrontadas,
 costumam qualificar como fruto da 
violência doméstica.
No entanto, segundo as investigações
 realizadas pela Anistia Internacional,
 muitos dos crimes têm suas raízes
 na discriminação, apesar de que sejam
 consideradas também outras hipóteses
 relacionadas ao narcotráfico, ao tráfico
 de mulheres, ao tráfico de órgãos
 e aos filmes snuff, um gênero 
também conhecido como white heat
 ou the real thing, nos quais as mulheres 
são torturadas, violentadas e assassinadas
 com o único objetivo de registrar 
esses fatos através de algum meio 
audiovisual para, em seguida,
 comercializá-los por quantias incalculáveis.
 Sobre essa última suposição, 
não foram encontradas provas que
 possam respaldá-la, apesar de que
 não parece tão disparatado pensar 
que em nossa enferma sociedade
 não existam indivíduos que desfrutem -intelectua
ou comercialmente- com esse tipo de produções.
Alguns analistas sustentam também que poderia
 tratar-se de macabros rituais celebrados 
com o objetivo de estabelecer a coesão
 entre membros de grupos mafiosos e
 selar a pertença ao grupo, por parte dos assassinos,
 com pactos de sangue.
Segundo a investigadora Rita Laura Segato,
 "os feminicídios de Ciudad Juárez não são
 crimes comuns de gênero, mas crimes 
corporativos e, mais especificamente,
 são crimes de segundo Estado (...)
 que administra os recursos, direitos
 e deveres próprios de um Estado paralelo, 
estabelecido firmemente na região 
e com tentáculos nas cabeceiras do país".
 Porém, o mais alarmante é que esta lacra
 chegou também ao chamado
 "triângulo da violência":
 Guatemala, El Salvador e Honduras,
 segundo a descrição cunhada pelas
 Nações Unidas, que alcançou as mais
 altas taxas de feminicídios da região
 já não relacionadas com os conflitos armados, 
que assolaram a esses países em um passado
 não muito distante. E poderiam 
continuar estendendo-se.
E se continuamos rumo ao sul, 
podemos ver que, tampouco, 
nosso país está isento de um 
desmedido incremento das consequências
 que até agora pareciam limitar-se a 
casos isolados; porém, cada vez mais
 frequentes do que também aqui se
 qualifica como produto da violência familiar.
 As mortes de mulheres queimadas 
com álcool ou com benzina em 
"acidentes domésticos" que,
curiosamente, não acontecem 
quando a mulher está sozinha,
 mas diante da (impotente?) presença
 do marido ou companheiro, tem aumentado
 desde um primeiro acontecimento no qual
 a justiça determinou a impossibilidade 
de provar a culpabilidade da
 principal testemunha presencial
 (nesse e em quase todos
 os casos, o marido) por ocorrer em 
âmbito privado e ser muito difícil 
estabelecer se realmente o fato é
 atribuível a um acidente ou a um assassinato.
Toda essa manifesta agressividade masculina
 em relação à mulher não é uma consequência
 a mais das condições de vida contemporânea
 a que costumamos atribuir os males que nos
 rodeiam; mas, parece arraigar 
no mais profundo primitivismo humano.
 Desde o princípio dos
tempos, privilegiar a morte tem sido um
 denominador comum de muitas culturas, 
não de outro modo se entende a exaltação
 do heroi, do guerreiro, do combatente
 encarnando sempre os valores do arrojo,
 da audácia, da valentia, da virilidade, da 
coragem, da intrepidez em função de que?
 Somente em função da morte, uma função
 reservada aos homens da tribo, do Estado,
 do império..., na qual as
 mulheres (ou suas equivalentes,
 as nórdicas ‘walkirias' ou as
amazonas gregas) participaram
 só mitologicamente, partilhando, 
em suas condições de deusas, 
os campos de batalha.
Enquanto que a função de dar a vida,
 que foi conferida somente à mulher, 
foi secularmente subestimada e confinada
 ao rotineiro âmbito doméstico e sua
importância diluída até quase desaparecer
 entre as pedestres tarefas cotidianas, 
das panelas e pratos, das chupetas, 
mamadeiras e cadernos escolares,
 produto de uma cultura certamente
 elaborada só por metade da humanidade.
 Meia humanidade que necessitou construir
 um imaginário de força, de vigor,
 de invencibilidade para dissimular 
talvez a frustrante sensação de esterilidade
 e de impotência provocada pelo mistério
 da gravidez e do parto, juntamente com 
a convicção de que são coisas às quais,
apesar de sua força e de seu engenho, 
jamais poderia ter acesso.
Tudo isso parece ter raízes tão profundas
 que não só em nossa civilização
judaico-cristã encontramos evidências
 certas e reiteradas de subestimação, 
de submissão, de menosprezo
 como reação ao temor que a mulher gera ao
 parecer dotada de "poderes" que
 escapam completamente ao 
arbítrio dos homens.
 Os estudos de antropologia têm 
demonstrado que é habitual em todas
 as culturas que os homens experimentem
 certo sentimento de inferioridade diante
 da capacidade procriadora da mulher; 
sentimento que tendem a reverter
 assumindo para com ela condutas
 prepotentes tildadas de menosprezo
 e humilhação. Um temor que também 
deve ter jogado um importante papel 
no julgamento e condenação das bruxas
 medievais.
Importantes e minuciosos estudos realizados
 nos códices maias e astecas põem em relevo 
que "O homem, em sua função de genitor,
 brilha por sua ausência. Se o nascimento
 por partenogênese de deuses tão
 importantes como Quetzalcóatl e
 Huitzilopochtli não deixa de reforçar a
 importância da figura
 materna pode suscitar também angústias
 e inquietações no seio de uma população
 masculina incapaz de legitimar agora a 
primazia do falo e, portanto, de seu poder".
Diz a antropóloga francesa Françoise Héritier 
que "não é o sexo, mas a fecundidade o que
 representa a verdadeira diferença entre o
 masculino e o feminino" e agrega Nicolas Balutet
 "que, na sociedade asteca, a fecundidade estava
 na base das angústias do homem. O rechaço às mulheres que expressam as crenças e as superstições
 vai além que o tabu relacionado 
com os fluidos menstruais e do parto".
 (La puesta en escena del
 miedo a la mujer fálica durante
 las fiestas aztecas" - Contribuciones
 desde Coatepec, UNAM, México).
De modo que, para terminar, pese 
aos grandes 
avanços alcançados pelas mulheres
 em matéria de igualdade de direitos
 nas sociedades contemporâneas,
 é evidente que nos resta
 ainda um longo caminho a percorrer para 
superar e remover tabus, usos e costumes 
que, não por atávicos e ancestrais estamos 
condenadas a suportar eternamente, Eles e 
nós devemos encontrar o modo de integrar 
nossas diferentes capacidades, de construir
 uma relação homem-mulher baseada no
 reconhecimento e na aceitação de nossas
 diferenças, capaz de afugentar os fantasmas 
desse passado que tem gerado e continua
 gerando tanta dor e para poder entoar,
 juntos, um canto à vida, que é o prodígio
 mais maravilhoso com que Deus ou a Criação
 nos honrou.

* Arquiteta argentina, editora do informativo semanal "El Grano de Arena", de ATTAC Internacional




(fonte:www.adital.com.br)