quinta-feira, 25 de junho de 2015

Violência contra mulher é resultado de machismo, não de natureza masculina.

O estudioso americano Matthew Gutmann defende o estudo de masculinidades para se acabar com a desigualdade de gênero e machismo.

por Tatiana Merlino - da Compromisso e Atitude.


Guttman:"Mas não são todos que violam, batem.Se é algo biológico, porque há tantos homens que não violam???


São Paulo - " O comportamento masculino é determinado pela biologia". "A natureza do homem é violenta, sexual, instintiva e difícil de ser controlada". essas são algumas explicações usadas para justificar posturas machistas e violentas por parte dos homens e que são desconstruídas por Matthew Guttmann antropólogo e especialista em masculinidades da Universidade Brown, de Providence, no estado de Rhode Island, Estados Unidos.

Em recente visita ao Brasil, Guttmann participou do I Seminário Cultural da Violência Contra as Mulheres, ocorrido em maio passado, em São Paulo e organizado pelo Instituto Patrícia Galvão e Instituto Vladimir Hergoz.

"Mas não são todos os homens que violam, que batem. Se é algo biológico, por que há tantos homens que não violam?", questiona o antropólogo. "Aí está brecha para se entender de onde vem o machismo. Eu trabalhei com homens violentos na cidade do México. E nosso desafio não é mudar sua biologia e sim seu pensamento".

Os estudo de gênero devem se debruçar sobre as masculinidades?

É Saudável, eu creio, pois vivemos em um mundo de mulheres e homens. Quando falamos de gênero, é muito comum pensar que estamos falando da mulher, mas se pensamos assim, estamos dizendo que os homens não tem gênero, não estão envolvidos em relações de gênero. Podemos entender melhor a questão de gênero ao estudarmos os homens. Isso não é dizer que para entender sobre as masculinidades, só vamos falar com homens.Também é muito necessário falar sobre os homens com mulheres. 

O que faz o estudo da masculinidade?

Tratamos de entender as ideologias, as práticas os comportamentos, as relações entre homens e também entre homens e mulheres e questão de gênero. Ser pai é uma questão de gênero, ser mãe também. Pode ser que seja a mesma coisa ou que haja divisão de trabalhos. Há diferenças em muitas famílias, mas também estão havendo mudanças nas tarefas de pai e mãe. Hoje, há muitos pais com experiência em trocar fraldas, mas seus avós não tinham tanta experiência nisso. São mudanças que vão correndo, inclusive em questões íntimas de família.

Nos Estados Unidos, a maioria dos que estudam os homens estudam os gays. Na América Latina sempre foi diferente: há estudos excelentes sobre gays, mas também há muitas feministas da Bolívia, Chile, Peru, Brasil e México que desempenharam um papel super importante nos estudos da masculinidade heterossexual. Se realmente queremos entender as relações de desigualdade que têm a ver com gênero, se realmente queremos mudar a situação, há a necessidade de estudar os homens e os incluir nos estudos feministas.

O título da sua apresentação durante o I Seminário Cultural de Violência contra as Mulheres foi "Os Homens são animais". Por que?

É claramente uma provocação. As mulheres também são animais, todos somos animais. O que isso quer dizer? Por exemplo, podemos falar de outros animais, como chimpanzés e patos. Há cientistas e biólogos que dizem que os patos violam as fêmeas. Eu digo que a violação é uma relação social, é a imposição do poder do homem sobre a mulher. Então os patos e os chimpanzés não violam as fêmeas. Podemos falar em sexo forçado, algo assim, mas não é violação no sentido humano.

Superficialmente podemos falar do comportamento de outros animais e do comportamento humano e afirmar que somos todos animais. Mas não é assim entre os humanos porque podemos ver mudanças radicais na questão gay, por exemplo. Há 50 anos, o debate era outro na sociedade brasileira, no México, nos Estados Unidos. Agora é legal casar-se em alguns estados dos estados Unidos. Como resultado da luta social, sobretudo de parte dos homossexuais, agora temos mudanças nas leis, nas atitudes sociais, não totalmente, claro, pois segue existindo a homofobia. Porém, não podemos ver mudanças da mesma maneira em outros animais.

Mas, se somos animais, em que somos? Ou seja, temos que fazer sexo para ter filhos, ok, isso é animal. Mas o sexo entre os humanos não é algo feito por instinto, enquanto que entre os chimpanzés e patos é por instinto.

De que forma o aspecto biológico é utilizado como desculpa para o comportamento machista dos homens?

Alguns homens dizem "assim sou, tenho minhas necessidades, você tem que aguentar, tem que aceitar, pois assim sou". É uma atitude bastante machista. Muita gente nos Estados Unidos acha que o machismo é latino porque a palavra é espanhola, mas o problema é que há machismo na Rússia, França, África do Sul, México, Itália, Japão. Há atitudes sexistas dos homens que tem um posição superior em relação à mulher e há uma relação entre machismo e violência. Podemos falar de violência doméstica, também de violência social.E, hoje em dia, a sociedade mais violenta do mundo é a dos Estados Unidos, não há outro país que faça invasões, e ocupações em outros países do mundo.Eu venho de uma sociedade machista nesse sentido, em nível de governo. Por isso, me incomoda quando eles dizem que o México é muito machista. Embora haja machos no México, claro.

Qual a relação entre a violência contra as mulheres e o argumento de violência por determinação biológica?

Há pensadores científicos que dizem que a violação é natural, é uma necessidade masculina física biológica, que não é por isso que temos que aceitá-la, mas há que reconhecer, que é algo que vem da natureza. Alega-se que os machos, os animais de todas as espécies, são assim. Ao se pensar assim, a violência contra a mulher, por exemplo a violação, teria que se desenvolver algumas maneiras de controlar a situação.

Porém, como esse comportamento não é resultado biológico e sim do machismo, de um pensamento de superioridade, de controlar, de poder etc.., temos que mudar a sociedade, as ideias, o comportamento dos seres humanos. Não podemos sentar com animais e lhes dizer:" Por favor, não como mais carne, ok? Não quero que coma mais ninguém por aqui. Por favor, leão, deixe de ser leão". Isso não funciona, pois sua biologia é assim. Mas se os homens são assim, não podemos falar com eles, teríamos de prender todos. Mas todos os leões buscam carne para comer, sem exceção. Se não procuram, morrem.

Mas não são todos os homens que violam, que batem. Se é algo biológico, por que há tantos homens que não violam? Aí está a brecha para se estender de onde vem o machismo. Eu trabalhei com homens violentos na cidade do México. E nosso desafio não é mudar sua biologia e sim seu pensamento.


(fonte:http://www.redebrasilatual.com.br/)

terça-feira, 2 de junho de 2015

IBGE: violência contra a mulher por conhecidos é maior no Norte.
Redação SRZD*

Quando uma mulher sofre violência no Brasil, é mais comum que o agressor seja um conhecido do que um desconhecido. A constatação foi feita pela Pesquisa Nacional de Saúde, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O estudo mostra que 2,7% das mulheres maiores de 18 anos foram agredidas por desconhecidos nos 12 meses anteriores ao questionário, realizado em 2013. Quando o agressor é alguém conhecido da vítima, o índice sobe para 3,1%.

O oposto ocorre com o sexo masculino. Agressores desconhecidos vitimaram 3,7% dos homens brasileiros maiores de idade, enquanto os conhecidos foram responsáveis por 1,8%.




Em números absolutos, agressores conhecidos atacaram 2,4 milhões de mulheres de 1,2 milhões de homens nos 12 meses da pesquisa. Já os desconhecidos agrediram 2,5 milhões de homens e 2 milhões de mulheres. Os números são projetados para todo a população com base nos resultados do questionário e têm um intervalo de confiança de 95%.

Os números variam de acordo com as regiões e estados. A violência contra mulheres por parte de conhecidos é maior no Norte (3,9%) e no Sul (3,7%). O Rio Grande do Norte é o estado que registra o maior índice de agressões, com 6,2%. O Mato Grosso do Sul tem o menor percentual, 1,7%.

Já a violência contra os homens por parte de desconhecidos chega a 5,9% no Norte. O Pará apresenta o maior índice (6,7%) e o Amazonas, 6,6%. No caso das mulheres, o maior percentual de agressões é registrado no Amapá, com 5,7%.

O total de brasileiros com mais de 18 anos agredidos por desconhecidos, no período de 12 meses, apurado pela pesquisa foi 3,1%. No caso dos conhecidos, o índice ficou em 2,5%.

As regiões Norte, Nordeste e Sul têm as maiores proporções de agressão por conhecidos, 3,2% para a primeira e 3% para as demais. No sudeste, o percentual é de 2%, e no Centro-Oeste 2,6%.

Quando analisadas as agressões promovidas por desconhecidos, o Norte mantém o primeiro lugar, com 5%. O Centro-Oeste aparece em segundo, com 3,4%, e o Nordeste, em terceiro, com 3,2%.

Segundo a pesquisa, 1,9% dos brasileiros foram agredidos por bandidos, ladrão ou assaltantes nos 12 meses anteriores à pesquisa. O índice de homens (2,1%) supera o das mulheres nesse tipo de violência (1,8%). As agressões desse tipo foram mais comuns no Norte, com 3,8%. Em segundo lugar aparece o Nordeste, com 2%.

*com informações da Agência Brasil.

(fonte:http://www.sidneyrezende.com/)