domingo, 30 de outubro de 2011
Uma mulher apanha a cada sete minuto
O Estado de S.Paulo
Oito mulheres são agredidas por hora em São Paulo e registram boletim de ocorrência de
lesão corporal nas delegacias do Estado. Nos últimos nove meses, 5.844 mulheres foram
agredidas - 62% desses casos foram registrados no interior. Os dados são do mês de
setembro e foram divulgados ontem pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
É a primeira vez que os dados de criminalidade contra a mulher foram separados dos
índices gerais.
"Quanto mais detalhadas forem as estatísticas, mais saberemos a respeito do que ocorre
no Estado. É positivo que possamos saber o tipo de violência que ocorre contra a mulher
para podermos atuar de forma mais precisa", afirma a delegada-geral adjunta, Ana Paula
Batista Ramalho.
Comparado ao total de agressões no Estado, as mulheres representam 37% das vítimas.
No geral, são casos que envolvem brigas e disputas domésticas com o marido ou
companheiro. O segundo crime com maior incidência de casos são as ameaças, que
alcançaram 5.769 ocorrências. Logo em seguida vêm calúnia, difamação e injúria, com
1.258 casos. Outro crime envolvendo os conflitos familiares são os casos de maus-tratos,
cujos registros chegaram a 56.
Os homicídios, que normalmente estão relacionados a conflitos no universo criminal, os
homens continuam sendo as vítimas preferenciais. Em setembro, segundo dados da
Secretaria de Segurança Pública, foram assassinadas seis mulheres, o que representa 2%
do total de assassinatos no Estado.
Crimes sexuais, como estupro, também fazem parte das estatísticas divulgadas ontem,
que atendem ao disposto na Lei Estadual 14.545, sancionada pelo governador Geraldo
Alckmin em 14 de setembro.
O Estado de São Paulo tem hoje 129 Delegacias de Defesa da Mulher (DDM). Os dados
criminais incluem não apenas as ocorrências registradas pelas DDMs, mas por todos os
distritos policiais. / B.P.M. e D.T.
(fonte:www.agenciapatriciagalvao.org.br)
Notícia Estado de São Paulo.
Entrevista exclusiva com a ministra Iriny Lopes
(Agência Patrícia Galvão) Em entrevista exclusiva à Agência Patrícia Galvão, a ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas paras as Mulheres, fala sobre a posição da SPM diante de casos de sexismo na mídia, como na campanha da Hope, e da importância do diálogo com os meios de comunicação sobre a representação da imagem das mulheres.
A polêmica da Hope contribuiu para o debate sobre os limites e implicações da publicidade.
Debater, sempre. Censurar o debate, nunca!
Agência Patrícia Galvão - Por que a SPM optou por acionar o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) para solicitar a suspensão da publicidade de lingerie da Hope?
Iriny Lopes - O Brasil optou pela autorregulamentação na publicidade e o Conar - que é um conselho constituído pelas próprias empresas e agências de publicidade - estabeleceu as regras, os limites, os parâmetros e o código ético que orienta a publicidade no país. No nosso entendimento, era, portanto, para esse órgão que a SPM deveria levar a solicitação de suspensão da publicidade que consideramos ofensiva às mulheres em vários aspectos. Como ministra me senti, portanto, muito à vontade; era uma solicitação de suspensão que poderia ou não ser acatada. A sociedade brasileira precisa amadurecer; não deve entender as ações do governo como algo autoritário; acionar o Conar foi uma ação legítima, que corresponde à lógica do Conar e à prática democrática; todos têm responsabilidade. Se estamos procurando consolidar a democracia no país, todos têm de fazer sua parte.
APG - Com que freqüência a SPM recebe solicitações para interferir em relação à publicidade?
IL – Cotidianamente recebemos solicitações, denúncias e pedidos, tanto dos movimentos de mulheres como da população em geral, para que a SPM se manifeste em relação a diferentes questões de abuso aos direitos das mulheres, inclusive sobre peças publicitárias. A Ouvidoria da SPM recebeu dezenas de reclamações e manifestações sobre a publicidade da Hope. A prática da Secretaria é confirmar se a denúncia tem consistência e amparo legal e, caso sim, remeter ao órgão competente. O recurso que fizemos, portanto, é legitimo e baseado nas regras do Conar. É assim que construímos um processo democrático.
APG - Como entender a reação da imprensa que, ao mesmo tempo em que defende a autorregulamentação, critica a solicitação da SPM como interferência do governo ecensura. Foi má informação ou má fé?
IL – Foi desproporcional a reação da imprensa diante da natureza do recurso que fizemos ao Conar. Houve ambas as coisas: má fé e desconhecimento. Eu me senti censurada pela imprensa brasileira; como se estivessem tentando cercear um direito e um dever legítimo que tenho, de encaminhar aos órgãos competentes as questões que chegam até a SPM. Foi uma reação retrógrada, sexista, incongruente com o próprio pensamento dominante na mídia, de autorregulamentação. Mas isso não nos intimida, porque faz parte do nosso trabalho combater o machismo e o sexismo.
APG - Sobre ofício da SPM à Rede Globo, acerca da abordagem da violência doméstica na novela “Fina Estampa”: qual é a relevância de dialogar com a Rede Globo e sugerir, por exemplo, que a vítima de violência acione o Ligue 180?
IL – É importante reconhecer que as novelas são um instrumento de comunicação direto com a população. Embora sejam ficção, tratam de temas da realidade e, nos últimos anos, têm abordado assuntos importantes, como crianças desaparecidas, interesses da comunidade LGBT, violência contra as mulheres, questões da deficiência e da terra. Em “Fina Estampa”, o personagem é agressivo com a esposa e com a filha adolescente. Ao sugerir à Rede Globo que as vítimas procurem o 180. Esperamos que todas as mulheres em situação semelhante tomem conhecimento do 180, saibam que há um espaço no qual podem ter orientação de como agir. Sugerimos também à Rede Globo um artigo pouco conhecido da Lei Maria da Penha, que é a recuperação e a reabilitação do agressor. A rede pública só oferece esse tipo de serviço ao agressor se o juiz determinar que, além da punição – da qual não abrimos mão, por entender que se trata de um crime - o agressor deverá também procurar um serviço social ou de saúde. Esse processo pode reabilitá-lo e isso pode trazer a recomposição da harmonia da vida familiar.
APG - Foi publicada na mídia que a Central Globo de Comunicações reagiu de forma positiva às sugestões da SPM para a situação de violência doméstica na novela "Fina Estampa".
IL - Temos feito esforços para ter uma relação de parceria e de diálogo com a mídia, a academia, o Judiciário, o Ministério Público, porque a conquista de autonomia e respeito e a superação da desigualdade entre mulheres e homens não é uma tarefa exclusiva do governo. Podemos ter delegacias da mulher, programas de autonomia financeira para mulheres e muitos outros; porém, se não houver mudança de postura e de cultura, dificilmente essa igualdade será atingida, como é o sonho dos movimentos de mulheres, das feministas e da população como um todo.
APG - Qual é o balanço que a SPM faz a respeito do intenso debate sobre o pedido de suspensão da publicidade da lingerie Hope? Este foi um dos temas mais comentados pela mídia tradicional e pelas redes sociais nas últimas duas semanas.
IL - A polêmica serviu para repensar alguns parâmetros da publicidade brasileira em respeito às mulheres, para abir portas para o debate sobre os limites e possibilidades e as implicações da publicidade. O debate, sempre. Nunca a mordaça.
(fonte: www.agenciapatriciagalvao.org.br)
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